Tuesday, August 18, 2009

Deflação da Natalidade

"A Rússia é o único país do mundo onde há mais abortos do que nascimentos" lido aqui.

A deflação é um fenómeno mau: na expectativa de que os preços baixarão, as pessoas não compram e as empresas não investem. Em consequência, a economia contrai-se. E, em resultado dessa contracção, é razoável manter a expectativa de que os preços baixarão. Além disso, da própria contracção económica resultará menor poder de compra e, portanto, haverá uma força no sentido da descida generalizada dos preços. Ou seja, a deflação é um ciclo vicioso que contrai a economia.


Na Rússia, a natalidade é baixa, o saldo natural é baixo e o saldo natural incluindo abortos é baixíssimo. Isto será eventualmente mau para a economia, para a segurança social, para a sociedade e denotará porventura uma não-realização de determinados planos de felicidade.


No entanto... que tipo de expectativas estarão por trás desta baixa natalidade? "Se olharmos para os números, vemos que entre 1999 e 2008 a economia russa cresceu a uma média de 7 por cento ao ano" (do mesmo sítio). O que está por trás daqueles números poderá bem ser a confiança no forte crescimento económico russo: para quê ter filhos hoje se daqui por alguns anos o país estará muito melhor? É claro que quem tiver filhos hoje também contará com mais riqueza no futuro próximo mas gente haverá que prefere aguardar e só ter filhos a partir de um certo patamar de riqueza.


Ou seja, assumindo que toda a gente tem uma concepção de um patamar de riqueza mínimo para ter filhos e assumindo que esse patamar será o mesmo para todas as pessoas - é possível ainda assim conceber uma fundamental diferença de preferências entre as pessoas: as que querem que o patamar de riqueza exista ao ano 0 dos filhos e os que não se importam que esse patamar se verifique só quando os filhos chegarem, por exemplo, à idade escolar.


É possível que na Rússia o primeiro tipo de preferências seja maioritário. Nesse caso, a deflação da natalidade na Rússia - para além de ser consentânea com os dados das economias mais desenvolvidas do mundo - poderá ser sinal das expectativas elevadas que os cidadãos daquele país têm em relação à sua economia.